Para perder alguma coisa, você precisa ter isso em primeiro lugar.” — RHODE, Martin.
Séries de investigação criminal são populares no universo televisivo. Não é a toa que programas de estilo “caso da semana” duram anos na tevê norte-americana e ainda conseguem bons números de audiência. Há também o outro lado do gênero. Nos últimos anos, séries que dedicam uma temporada inteira para a investigação do mesmo caso têm chamado atenção da crítica. O caso mais recente é a prestigiada True Detective, produção de qualidade incontestável da HBO. Hoje a coluna Você Precisa Assistir fala sobre a produção dano-sueca Bron/Broen.
Criada pelos produtores Rosenfeldt Hans e Bjorn Stein, e exibida originalmente pelas emissoras DR1 e SVT1 em setembro de 2011, Bron/Broen não foi um sucesso imediato na Dinamarca, entretanto foi líder de audiência quando exibida na Suécia. O êxito veio mesmo na distribuição internacional, sendo transmitida em lugares como Reino Unido, Alemanha, Brasil, Austrália e outros 170 países. Além disso, a série ganhou pelo menos duas adaptações até agora. A primeira foi a versão a franco-britânica The Tunnel, com o canal que liga a Inglaterra e a França, o Eurotúnel, como ponto de partida da trama. A segunda é a norte-americana The Bridge, produzida pelo FX, com Diane Kruger e o mexicano Demién Bichir.
A premissa é a mais comum possível. A investigadora sueca Saga Norén, interpretada pela competente Sofia Helin, é chamada para investigar um assassinato na famosa ponte Öresund, que liga a Suécia e a Dinamarca — daí o nome do programa (ponte) em ambas as línguas. A situação muda de figura quando a perícia constata que o cadáver está literalmente na linha que separa os dois países, fazendo necessária a presença do investigador dinamarquês Martin Rhode (Kim Bodnia). A partir de então, a série começa a ganhar identidade própria quando se mostra um complexo jogo psicológico entre o assassino e os policiais.

Na segunda temporada, o que parecia ser complexo fica ainda mais intrigante e atinge um nível aprofundado de desenvolvimento. Saga e Martin retornam para investigar o aparecimento de cinco pessoas acorrentadas em um navio nas proximidades de Öresund, sendo três suecos e dois dinamarqueses. O bom aqui é que além dos incidentes criminosos dessa temporada, consequências do ano anterior continuam sendo exploradas.
A storyline de Martin que já era muito bem escrita anteriormente, ganha ainda mais destaque, já que os frutos da primeira temporada são fortes na vida do personagem. Fora a trama familiar, Rhode sempre acaba diante de situações definitivas para o rumo que irá seguir. E isso é ótimo para o ator Kim Bodnia, que teve a oportunidade de trabalhar todas as nuances possíveis em vinte episódios e está fantástico na segunda temporada da série.
Outro ponto alto é Saga Norén. A protagonista de Sofia Helin sofre de síndrome de Asperger, sendo esta sua característica marcante. Por causa do transtorno, vive em um certo isolamento afetivo, dedicando-se apenas ao trabalho. Apesar disso ter deixado a personagem muito na introspectiva durante o primeiro ano, conhecemos uma Saga mais aberta a relacionamentos na segunda temporada, quando ficamos sabendo mais sobre o seu passado.
Além da dupla principal, o elenco secundário também é bem trabalhado. Com uma temporada inteira para resolver os crimes, cada uma com

dez episódios, o show precisa aproveitar os coadjuvantes da melhor maneira possível, o que é feito com maestria. Todo início de temporada somos apresentados a potenciais vítimas ou suspeitos, que podem até parecer desconexos nesses capítulos iniciais, mas aos poucos o roteiro liga os pontos e mostra que ninguém existe por acaso e cada personagem, por menor que seja sua participação, tem sua devida importância.
Este ano, a produção escandinava ganhou os prêmios Golden Nymph de Melhor Drama Europeu e Melhor Ator para a performance de Kim Bodnia pela segunda temporada da série, concedido no Festival de Monte-Carlo. O programa foi renovado para a terceira temporada, mas infelizmente não contará com Bodnia no elenco regular. Ainda assim, “A ponte” é uma excelente opção de série para quem está buscando por temporadas curtas e um produto audiovisual de qualidade. Bron/Broen vale cada minuto.
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