Ele se tornou um nome muito conhecido. Como um Heath Ledger, um vilão de Hollywood. Ele era um monstro cruel, que costumava matar e torturar para não se sentir impotente. Fim de papo.” — Lana, sobre Dr. Therdson
Uma ótima série merece um ótimo desfecho. E podemos dizer com segurança que foi o caso de AHS: Asylum, com o encerramento de todas as histórias possíveis.
O que eu não esperava era que Johnny fosse mesmo o filho da Lana. A série desafiou a ciência em vários momentos, e colocou na mesa alguns assuntos difíceis para discutirmos. Freud, o pai da psicanálise, discute, em alguns textos, se comportamentos pacifistas podem ser natos ao ser humano. A ciência comportamental questiona, então, se o comportamento oposto, a agressividade, também pode ser nato ao ser humano, dependendo de sua condição genética.

Para Johnny, que não conheceu o pai e muito provavelmente não teve suprido o afeto materno nos lares adotivos por onde passou, a busca pela identificação genética e o se encontrar dentro de uma família falou mais alto. Uma conjunção de fatores levaram o filho de Bloody Face a desenvolver a psicopatia, doença que atinge mais homens do que mulheres, tendo componentes genéticos, familiares, neurológicos e sociais.
Fechar o ciclo da série com Johnny sendo o assassino da season premiere é brilhante. Mostra o quão bem faz a série ser definida em uma temporada.
Como na temporada passada, apenas um personagem sobrevive à Briarcliff até o momento atual: Lana. E se pararmos para pensar, faz todo sentido: depois de mostrar ao mundo os horrores do manicômio, ela se torna uma jornalista de sucesso. Mas isso só foi possível pelo seu ímpeto ganancioso, o que a fez entrar em Briarcliff pela primeira vez. Após uma épica jornada de tratamentos nada ortodoxos, a busca da cura de sua escolha sexual, o abuso sofrido pelo grande serial killer da época e a fuga, Lana se encaixa no papel da heroína perfeita.

E são raras as histórias na qual a heroína é gay. E mais raras ainda, na TV, tramas nas quais estes personagens tenham finais felizes. A controversa trajetória de Lana mostra o quão falível somos como seres humanos. Lá no fundo, salvo o terror fantástico que inclui extraterrestres e monstros mutantes, ela alcança a grande ambição humana: realização pessoal e profissional.
Mais uma vez Ryan Murphy nos mostra que a escolha da década de 60 não foi aleatória, e sim muito bem pensada. Foi nessa década que a TV começa a se tornar um meio de comunicação de massas, presente em mais de 90% das casas norte-americanas. Os anos 60 foram responsáveis por uma revolução no modo de fazer TV, com o advento do vídeo tape, da popularização dos apresentadores e dos programas que expuseram a realidade na TV, deixando um legado que é visto até hoje. Julia Child e o seu programa The French Chef (1963) norteia até hoje o modelo de programa de culinária. E Lana usou a TV para denunciar Briarcliff e para se tornar uma estrela.
E sister Jude? Acredito que a loucura não seria o melhor final para ela, mas a morte, perto de pessoas que a dariam conforto, um final digno. A história de Jude Martin, de abandonada no altar pelo noivo, cantora de cabaré, prostituta, freira e louca, teve seu final apoteótico quando ela retorna à família, de onde, quando garota aos 18 anos, sempre havia sonhado estar.

Depois de ela ter tomado tantos tombos da vida, ser acolhida por quem ela havia despejado todo seu sadismo é de conformar a bondade no coração de Kit Walker, que somente os ET’s enxergaram. Talvez, o grande triunfo de Kit era ter um coração bom, dentre tantos outros personagens marcados pela maldade. Em terra de cego, quem tem um olho é Rei. Por isso, também, que os ET’s deram a ele dois filhos amorosos e inteligentes, e um final na nave mãe.
(Repararam em quem é o filho de Kit e Grace? Brady Allen, que está também no elenco de Atividade Paranormal 4. )
A ousadia e a cadência determinada são os pontos fortes de AHS. Ter planejado principio, meio e fim em 13 episódios é um luxo que a série tem, e que tem se mostrado muito eficiente, pois torna a obra coesa e é garantia de qualidade. Acredito que até para os atores seja interessante viver um personagem por temporada, para o exercício da arte. Este formato pode atrair nomes do cinema de peso, com o atraiu Jessica Lange. Para esta temporada, deixo meus aplausos para Lily Rae, Zachary Quinto e Frances Conroy, que roubaram a cena por diversas vezes e nos presentearam com grandes atuações. Que venha a terceira temporada, que será ambientada em NYC e nos dias atuais.
Espero que tenham gostado das críticas. Até a próxima fall season!
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