Doctor Who usa da linguagem científica para discutir questões metafísicas sobre vida pós morte.
Morte é a única coisa que une toda e qualquer coisa viva no universo (…) Como é a morte? Machuca? Ainda sentem fome? Sentem falta de estarem vivos?” WHO, Doctor.
Escrito pelo veterano e versátil Toby Whitehouse, outrora showrunner da falecida série Being Humans e responsável por episódios como A Town Called Mercy, The Vampires of Venice e The God Complex, Whitehouse traz a Under the Lake uma de suas principais características, o trabalho com o sobrenatural, e de forma eficiente. Ao mesmo tempo que entretêm o espectador com a evolução da narrativa, o roteiro consegue fazer interessantes abordagens metafísicas sobre a vida pós morte.
A estrutura narrativa do episódio não chega a ser um fato inédito dentro da série. Bebendo da fonte de episódios anteriores como Dark Walter, The Walter of Mars e The Rebel Flesh temos a premissa de uma estrutura familiar. Um grupo de cientistas/ militares unidos em prol de uma grande pesquisa movidos ou pela paixão a ciência, pela descoberta, pela ordem ou pelo próprio lucro e fama que o dinheiro pode trazer, acabam se deparando com um perigo mortal. E a partir deste perigo, que neste episódio se faz evidente por possíveis fantasmas, traz a tona discussões tão humanas. Há vida após a morte?
Devemos nos ater, leitores, como o roteiro é eficiente em não sonegar as narrativas das temporadas passadas e, ao mesmo tempo, em pequenos diálogos abrir a possibilidades de explorações de novos plots, tanto para a série televisiva como para o Universo Expandido de Doctor Who, ao trazer em momentos pontuais a confirmação de que, por exemplo, Clara se encontrou com Gandhi ou o Doutor com a cantora escocesa Shirley Bassey, que é responsável por temas dentro da franquia 007.

E quando eu menciono ao não ignorar as narrativas de outras temporadas, devemos nos atentar que, num primeiro momento, Whitehouse trouxe como o fantasma da narrativa os seres do planeta Tivoli, que foi introduzido no episódio da sexta temporada The God Complex (Aquele com o Minotauro).
Posteriormente, em um breve momento, o roteiro consegue mostrar nuances das cicatrizes que Clara carrega consigo sobre a morte de Danny Pink; ao deixar a personagem expor toda hora que quer aventuras, correr de monstros, explosões e salvar planetas. Clara usa as aventuras pelo tempo e espaço junto ao Doutor como sua válvula de escape para a inabilidade de lidar com emoções mais intensas que não consegue administrar.
A direção de Daniel O’Hara, outro veterano no cenário audiovisual inglês, que leva em seu currículo por exemplo o episódio Effy de Skins, faz um trabalho interessante de fotografia ao trazer tons variados de azul e verde,refletindo o mundo subaquático da estação que, junto com a mixagem de som, em momentos pontuais nos faz lembrar que estamos submersos ao escutarmos o som de água, sempre ao longe.
Destaque também devemos dar a atriz Sophie Leigh Stone, que interpreta a sub-comandante Cass e que é deficiente auditiva na vida real. Sua interpretação é tão intensa, principalmente no momento em que ela confronta o Doutor, trazendo para si a responsabilidade em salvar sua tripulação. Sua inclusão no casting é excelente para trazer não só ao publico britânico, como a todos os países que acompanham Doctor Who, a visibilidade para atores surdos. E lembrem-se, leitores, ser surdo não é sinônimo de ser mudo também.
Assim, o roteiro de Whitehouse consegue destacar de forma interessante a surdez de Cass, o que para muitos é visto como uma deficiência, aqui é usado como vantagem e como uma das questões de ponto de partida do plot narrativo, ao termos a personagem como responsável pela leitura labial dos fantasma e a tripulante com o raciocínio lógico mais rápido.
Devemos apontar também o bom uso encontrado no roteiro para a aplicação dos óculos escuros sônicos, e devo confessar que de fato não me incomoda a ausência da screwdriver, que muitas vezes trazia soluções fáceis para as situações de risco que o roteiro proporcionava, além é claro, de remeter as primeiras encarnações do Doutor que não a usavam.
Under the Lake, apesar de não ter uma tensão dramática como os episódios passados, consegue ser muito bem sucedido no que se propõem. Além de trazer um bom cliffhanger para a continuação do arco.
E você leitor, o que achou do episódio. O Doutor de fato morreu? Sente falta da screwdriver? Fantasma de fato existem? Não espere escurecer para deixar seus comentários e claro sua nota sobre o episódio.
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