
Esse texto contem spoilers. Se você não assistiu ao episódio 16 da 4ª temporada, não perca tempo, assista e volte logo após.
Uma boa série se constrói ao redor de seu/sua protagonista e Vikings teve um excelente até esta temporada. A energia de Ragnar Lothbrok fez com que, não somente o povo viking, mas também o público, embarcasse junto de seu sonho explorador. Durante 4 temporadas, torcemos por suas vitórias, ficamos chocados com algumas de suas atitudes e vimos os demais personagens ao seu redor crescerem.
Sabendo que ele foi um personagem histórico, seu destino não era mistério. Bastava uma pesquisa rápida no Google para sabermos que ele acabaria exatamente da forma como foi mostrada. Porém, enquanto público sempre pensávamos que talvez fosse cedo demais para que o “grande Ragnar Lothbrok” fosse jogado dentro de um poço cheio de serpentes.
Mesclando fantasia e realidade os produtores da série não temeram arriscar a perda de um protagonista para que o público entendesse que Vikings não é uma série sobre Ragnar, e sim é uma historia sobre o povo viking.
Sendo coerente na construção dos roteiros vimos a ascensão de Ragnar a um rei que ele não estava preparado para ser. Sim, ele foi um exímio explorador, conquistador, mas não um bom governante. O Ragnar Lothbrok que o Travis Fimmel interpretou foi um homem curioso, apaixonado em todas as suas ações, para com sua família, com seus barcos, seus amigos, sua religião (ou a falta dela). E sabemos que um governante próspero deve saber controlar suas paixões.
Por isso sua queda foi coerente. Ao não saber lidar com a derrota no campo de batalha e fugir das responsabilidades de governante, sua decadência se acentuou (tanto em sua reputação junto ao seu povo, quanto em sua aparência física) e só lhe restava buscar a glória, uma paixão que alimentava seu ego, na certeza de que sua memória permaneceria e que seus filhos iriam honrar seu nome.
Se Ragnar havia perdido a fé em seus deuses, o roteiro não deu certeza, mas deixou claro que os deuses mantiveram sua fé nele. Pois, segundo o próprio criador da série Michael Hirst, Odin em pessoa foi o portador da notícia de sua morte.
O bastão foi passado de forma natural para os demais personagens. Agora, não sabemos se haverá um grande protagonista na história. Todos os personagens estão nos lugares onde devem estar para que a roda continue girando.
Por mais que se possa questionar a forma como Lagertha chegou ao trono de Kattegat, voltando atrás podemos perceber pequenas pistas de que ela não havia superado completamente a perda de seu posto ao lado do rei. Rollo voltou ao que saber fazer melhor, ser viking. Floki parece estar alcançando uma sabedoria que mudará sua visão de mundo. E quanto aos filhos de Ragnar, o desejo de vingança irá uni-los, já a luta pelo poder poderá separá-los. Ou seja, há muita história para ser contada ainda.
Enquanto o episódio 15 (All his angels) teve o ar melancólico que é exigido em uma despedida, o seguinte (Crossings) veio recheado de uma força impulsionadora, tanto pela notícia da morte de Ragnar, quanto pela ameaça que Ivar pode se tornar. Houve também o encontro dos vikings com uma nova cultura (a mulçumana) que nos remete ao início da série, quando Ragnar depara-se pela primeira vez com os cristãos.
E se as palavras finais de Ragnar pareceram jogadas para um público que não as entendia momentos antes de sua morte, o roteiro acertou em repetir o discurso. A voz do grande conquistador pareceu encher o mundo viking ecoando nos lugares ao qual pertence.
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