Episódio aparentemente morno foca adianta histórias importantes para Game of Thrones.
Este lugar não é estranho, essa é a minha casa. São as pessoas que são estranhas.” — SANSA
Chega a beirar a injustiça dizer que o mais recente episódio foi sonolento. Muito semelhante aos episódios da primeira temporada, onde os personagens tinham longos diálogos cheios de nuances e subtextos sobre a trama por trás da trama, Kill the boy optou por tomar folego ao desenvolver os arcos da Muralha, Winterfell e de Mereen. Por ficar tão localizado nesses territórios, dá-se a impressão de que o episódio foi lento, em contraste com a esquizofrenia que costuma ser as viagens entre as várias casas de Game of Thrones.
O que aconteceu, na verdade, foi um avanço quase galopante na história de Jon e Stannis. Diferente do que costuma acontecer com a história do bastardo, Snow finalmente tomou atitudes em seu novo posto, enquanto o pretendente ao trono de ferro segue seu rumo para um arco da história que não é narrada nos livros. Isso significa que a partir de agora sua viajem até Winterfell para confrontar Lorde Bolton poderá desaparecer completamente, semelhante ao que aconteceu no livro (embora completamente improvável), ou teremos a chance de ver o que o livro não mostra diretamente, o que pode nos trazer agradáveis surpresas.
Mas é intrigante saber que junto com seu exército, Stannis leva sua esposa, a filha e Melissandre. Ambas as personagens, orginalmente, permanecem na muralha. E enquanto Selyse e Shireen pouco adicionam para a história, a sacerdotisa vermelha desempenha papel chave com sua permanência. Essa mudança parece irreversível, o que coloca em jogo a concretização de certos eventos. Também não faz muito sentido que a série tenha desenvolvido Selyse e Shireen para retirá-las desta forma. Soa como tempo mal gasto de episódio que poderia ser usada em histórias que ainda não tiveram desenvolvimento consistente, como em Dorne.

Aproveitando o título do episódio, pudemos ver uma similaridade nas ações de Jon Snow e Daenerys. Ambos tornaram-se mais adultos ao se arriscarem e seguirem os seus instintos do que é acham correto. Isso serve para a série pelo desenvolvimento dos personagens, porque ganharam uma maturidade visível. Mas talvez a maior beneficiária desses rumos seja Daenerys, que contrasta com sua versão apática dos livros. Aqui, ela foi o elemento propulsor não apenas da sua história, mas também de outros personagens de seu núcleo. O repentino foco em Missandei e Verme Cinzento trouxe um pouco de leveza para a história que se passa em Mereen. Além disso, bastou um diálogo entre ela e Dany para instaurar uma dinâmica menos tensa e todo o arco se tornar mais agradável.
É interessante ver que mesmo que esta temporada tenha aproximado alguns núcleos, Game of Thrones ainda aposta na criação de expectativas de encontros futuros e na tensão que fica após vermos certos personagens desviarem seus caminhos. É isso que torna a viagem de Jorah e Tyrion ainda mais apreensiva quando eles se veem forçados a se afastarem de seu objetivo inicial. Mas é com Sansa e seu encontro com Theon que temos uma espécie de flashback aos tempos em que a filha de Ned era casada com Joffrey.
Novamente, ela se vê obrigada a se casar com um homem sádico e de moral deturpada. A cena do jantar com os Bolton se torna ainda mais grotesca quando lembramos que Sansa está em sua casa tendo que aturar o futuro marido relembrando da morte de seus irmãos, quase como se estivesse esfregando em sua face em um jogo que pune tanto ela quando Theon.
A alegria de Ramsay, no entanto, quase acaba quando seu pai anuncia que vai ter um novo herdeiro, podendo ameaçar sua posição. É improvável que o arco dos Bolton chegue tão longe, mas dá quase para relacionar que o nome do episódio também faça uma leve referência a esse filho que está para nascer. E como bem ilustra a história de como Lorde Bolton descobriu que tinha um bastardo, Ramsay herdou muito bem a falta de escrúpulos do pai e não hesitaria em eliminar a concorrência.
Kill the Boy pode até passar despercebido dentre os episódios da atual temporada de Game of Thrones. Embora “ausente” de grandes emoções, o episódio trouxe muito desenvolvimento para suas histórias principais, no qual pudemos ver os conflitos internos da maioria deles. Ao focar em personagens cujos arcos não mostravam a que veio, a série se fortalece como um todo. Dessa forma, ela não precisa recorrer a artifícios para prender nossa atenção a troco de nada. Falta sim alguns ajustes para reparar elementos que parecem estar fora do lugar, mas é inegável que a série alçou voo em direção a um excitante mundo desconhecido.
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