Episódio com final controverso choca mais do que desenvolve as histórias de Game of Thrones.
Nós dois vendemos fantasias, irmão Lancel, acontece que as minhas são mais divertidas” — BAELISH, Petyr
Na temporada passada, Game of Thrones atraiu bastante críticas por uma cena em que Jaime Lannister estuprava Cersei ao lado do corpo de Joffrey. A cena em questão não só usava um ato violento como artifício para chocar, como trazia uma caraterística que constitui Jaime Lannister: seu amor pela irmã.
Em Unbowed, Unbent, Unbroken, a série volta a usar a mesma técnica e consegue o mesmo efeito que na temporada passada ao recolocar Sansa como uma personagem fraca momentos após a cena em que ela exerce um pouco mais de astúcia contra os perigos que a cercam em Winterfell.
Usar o sofrimento dos personagens é uma técnica comum para ressaltar sua força e cativa o público na esperança que através deste sofrimento seguirá o triunfo. Isto em narrativa é chamado de Jornada do Herói, que compreende uma série de eventos. Neste ciclo, uma das fases pelas quais o personagem passa é a da transformação, que antecede o seu retorno. Sansa estava exatamente neste ponto até o momento em que a cena de estupro ocorreu, e isso retrocede a personagem e sua jornada em busca de vingança pela sua família.
Algo semelhante acontece com Arya Stark, porém em menor grau. Assim como a irmã, a personagem teve sua dose de violência que, apesar de aparentemente leve, o acúmulo de cenas semelhantes trazem desconforto e fazem pensar se a série não poderia usar de outros métodos para contar as histórias dessas personagens. Enquanto a cena do estupro de Sansa decorre diferente nos livros (já que não é ela quem casa com Ramsey), a história de Arya segue mais ou menos igual ao material original, mas ao ser transportada para a série torna-se gráfica demais e falta moderação por parte da produção.
Em vez de violência, Game of Thrones poderia andar mais com as histórias que desenvolve. É inevitável sentir o desagrado do ritmo lento nos arcos da Casa do Preto e Branco e de Dorne enquanto o resto das histórias da série receberam mais espaço nos episódios até aqui exibidos. A ironia fica pelo fato de que o episódio leva o nome do lema da casa Martell e o único grande acontecimento é imediatamente empatado por outro que anula qualquer coisa que tenha acontecido, deixando tudo na mesma. É uma pena ver que logo as duas histórias que podem trazer novidades para a trama ainda estão tímidas.
Porém, é interessante ver como o episódio costurou entre suas cenas o tema sobre figuras paternas, estejam esses pais presentes ou não. Isso é possível ver tanto no espaço que Theon ocupa ao entregar Sansa para Ramsay, como nos discursos de Arya. Mas não são só nas garotas Stark que este tema é empregado. Também vemos menções aos pais na conversa entre Jorah e Tyrion (e se vale a menção, a argumentação sobre o tamanho do pênis de um anão é tão engraçada que traz uma bem-vinda leveza a uma temporada cheia de tensões) e na pequena reunião entre Olenna Tyrell e Cersei.
Mas é inegável que o tema é mais forte entre as filhas de Oberyn (sem nos esquecermos de Jaime também). Não fosse o desenvolvimento estranho dessas histórias, o episódio poderia ter apostado com mais confiança neste tópico, aproximando tematicamente as cenas de todos os personagens mostrados em Unbowed, Unbent, Unbroken.
E mesmo sendo este um episódio que supostamente deveria servir para o andamento da história de Dorne, são os eventos em King’s Landing que trazem mais excitação. Com o julgamento que leva à prisão de Loras e Margaery, Game of Thrones mostra como se aproveitar nuances e sutilezas da trama sem apelar para violência gratuita e repetitiva. Mas parece que há lições que a produção da série demora para aprender.
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