Restando apenas dois episódios para o fim da temporada, Gotham se firma como boa aposta da Fox
Sei o que é ser uma pessoa por dentro e o mundo enxergá-lo de outro jeito” — LENNON, Jason.
Poucas obras do universo literário são tão contundentes ao abordar as máscaras que o ser humano sustenta por toda sua vida quanto as histórias em quadrinhos. Em particular, com as de super-heróis. São seres que precisam ocultar sua face para ser quem, de fato, são.
E quando o universo é o da Gotham City de Batman, isso é ainda mais sintomático. Praticamente todos os habitantes da cidade lidam com essa dualidade entre o ser e o parecer. Todos os dias, seus cidadãos precisam lidar com os dilemas morais internos e sair para enfrentar o mundo. Alguns controlam isso de cara limpa. Outros necessitam de algum artifício, seja uma máscara ou uma cirurgia plástica.
Neste último caso, o Ogro surge exatamente com essa necessidade de renegar publicamente quem é por trás de uma fachada de beleza e riqueza, enquanto exterioriza seus problemas em lidar com a rejeição através de um instinto que o induz a matar. Não que ser renegado por uma alta socialite seja o passaporte para sair executando jovens inocentes, porém, auxilia quem precisa entender como a mente reage. E o final do episódio remetendo a 50 tons de cinza veio apenas reforçar isso.

No mesmo nível está Edward Nygma. O legista nutre uma grande paixão por sua colega de trabalho e por enigmas. Ante um caso de violência contra a mulher, quem poderia culpá-lo de agir como agiu? Ainda mais quando o alvo de tal agressão é justamente o objeto de seu desejo. O grande problema é que Nygma sentiu o prazer do sangue em suas mãos e isso lhe será a ruína.
O momento em que ele tira a vida do policial valentão é antológico para o universo que a série tem construído. Debaixo daquele viaduto, com todo um esquema especial de iluminação e fotografia, a cena contribuiu muito para definir a linha tênue que o personagem transita entre normalidade e loucura.
Igualmente perturbador, Oswald Cobblepot não aceita gratuitamente todas as humilhações às quais é submetido por Don Maroni. Novamente, seu desejo de eliminar um os principais chefões de Gotham é explicado. Não dá pra negar que o Pinguim é nefasto e elimina pessoas com facilidade e sem pestanejar. Mas ele é fruto do meio. Ter uma mãe compreensiva, porém perdida em devaneios, não contribui muito.
O melhor de Gotham é a série não renegar suas origens. Apesar de ter um amplo celeiro de ideias a serem exploradas nas HQs, a série não deixa de lado o que já foi produzido em outras mídias, especialmente a cinematográfica. E essas referências ficam mais explícitas quando envolvem Selina Kyle.
A atriz Camren Bicondova é uma jovem Michelle Pfeiffer, a Mulher-Gato indiscutível. Em Batman — O retorno, uma importante cena envolvendo Selina e Bruce se desenvolve no tradicional Baile Beneficente das Indústrias Wayne. Essa cena é tão emblemática que Nolan a retoma em O cavaleiro das trevas ressurge. Qual não é a surpresa ao perceber que a série colocar os jovens Bruce Wayne e Selina Kyle no mesmo baile! Uma cena singela, mas bem orquestrada. Não importa qual a idade, esses dois personagens possuem uma química impressionante.
Fish Mooney não foi mencionada no episódio e não fez falta. Gotham já tem inúmeros personagens interessantes. Um criado especialmente para a série teria que ser marcante demais para ter sua ausência sentida. Não é o caso.
Restando apenas dois episódios para encerrar sua primeira temporada, Gotham mostra que foi uma aposta acertada da Fox. Em meio a tantas séries de super-heróis, especialmente os da Marvel, é saudável perceber que os heróis da DC recebem um bom tratamento.
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