Como foi meu funeral?” — LOUNDS, Freddie
Antes de mais nada, vamos comemorar: Hannibal foi renovada para uma terceira temporada! Joguem suas facas pro alto de alegria!
Acabaram as dúvidas. Quem apostou em um Will dissumulado, acertou em cheio. Não bastasse termos uma dimensão sobre a realidade na série (pouca, mas tudo bem), finalmente Mason mostrou sua face real, ou como diria Will, seus métodos. Isso tudo em um episódio que foi denso, mergulhando forte na mente de Hannibal.
Depois de ficar somente se anunciando, Mason finalmente mostra o insano que um dia será. Quem bem se lembra dos filmes ou dos livros, o personagem é peça fundamental no futuro um bocado distante de Hannibal. E foi ótimo finalmente compreender mais um de seus lados macabros. Além de treinar porcos assassinos, ele consome as lágrimas de quem faz sofrer.
Já tinham mostrado isso com a Margot antes, agora veio para delinear o personagem. De certa forma, ele se parece com Hannibal. Ambos consomem suas vítimas, seus sentimentos. Com Mason é mais a tristeza, o desespero e o medo contido em uma lágrima. É quase um vampirismo. Mason se sustenta do sofrimento alheio, mas sua maior força é sua irmã. O garoto e qualquer outro que ele “beba” o sofrimento é petisco, Margot é o prato principal que ele consome apenas o suficiente para não matar. Guardar o suficiente para poder consumir mais depois.

Fora o fato de que ela dá margens para que isso aconteça. E não dá pra saber de fato se é puro masoquismo, seja na vontade de sofrer ou seja na vontade de dar a volta por cima e ver Mason sofrer. Ambas, talvez. Margot pode tentar se mostrar superior, mas é um corte diferente do mesmo pano. Ela se permite sofrer. Uma história parecida com aquela típica de casais que vivem em porta de cadeia por violência doméstica.
Mas o pior disso tudo é Hannibal. A maestria com que ele conduz os irmãos é assustadora. Ele planta ideias e suspeitas em cada um deles sem que percebam, acreditando que partiu de cada um deles. Marionetes sem consciência de suas cordas. É Hannibal que estimula ainda mais a vitimização de Margot, seu desejo de se vingar vagarosamente. Se ele só falasse “vai lá e mata”, qual seria a graça para ele?
Partindo para o grande mote do episódio, toda a história focou bastante na relação deturpada que Will e Hannibal desenvolveram. E funciona muito bem. Logo depois de sair do hospício, Will pediu que Hannibal não mentisse e, quando encarado, ele apenas ficava quieto. Will se aproximou de Hannibal o suficiente para que conversassem explicitamente sobre a morte de Abbigail. Uma evolução e tanto.
Já sabemos que tem um plano de derrubar Hannibal ali. A grande dúvida é: até que ponto Will está mergulhado neste “personagem” que ele desenvolveu? Todos bem se lembram do tormento que foi para ele matar Jacob Hobbs, o que demonstra que Will pode não sair ileso deste teatro. Mesmo que seja uma mera atuação, vemos que Will está cada vez mais se vendo em Hannibal, se tornando Hannibal. E ele está vendo Will da mesma maneira, um modo de transmitir seu trabalho.
É interessante ver a discussão deles, a maneira com que um trata os pontos filosóficos do outro. Hannibal é uma pessoa de paradoxos, não acreditando em um Deus, mas se submetendo a ele ao mesmo tempo. Talvez o que ele se refira seja a aleatoriedade das coisas da vida, coisas e pessoas que acontecem sem querer. E, querendo ou não, tendem ao irônico. Mas Hannibal se submete a uma força maior: a morte por si só.
Utilizar Shiva nesse episódio foi como uma luva, já que ele representa dois lados de uma mesma coisa. Assim como a morte está embutida à vida, o contrário também é válido. Hannibal aceita este fato e não vê a morte como algo ruim, mas como parte da vida. Um conceito necessita do outro para sobreviver. E Hannibal está a cada dia se tornando uma parte de um todo, enquanto Will está do outro lado. Yin e Yang formando uma balança necessária. É bem provável que seja tudo um espetáculo providenciado por Will, mas não tem como negar que ele está entregando a Hannibal sua alma, assim como o contrário. Os dois, juntos, formando uma coisa maior.
Faltam só dois episódios para o fim da temporada e cada peça na série se encaixa de uma maneira tão perfeita, tão surreal, que nem parece ser verdade.
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