Humans mostra como é complicado ser diferente em um mundo de iguais
Humanidade não é um estado. É uma qualidade” — ELSTER, Leonard.
Uma das maiores qualidades da ficção científica é que ela não tem obrigação de discutir a realidade. No entanto, ela o faz. E quando isso acontece, os resultados são como petardos atingindo a mente do espectador e levando-os a uma profunda reflexão sobre o mundo que os cerca.
Os tempos andam cada vez mais difíceis para os que são diferentes da maioria. Existe uma ditadura da normalidade, que tende a padronizar, não abrindo espaço para singular, para o peculiar. O que Humans fez foi utilizar o futuro como espaço para discutir o presente.
Há duas correntes de pensamento: os que acreditam que os sintéticos são a destruição da humanidade, pois irão ocupar o lugar dos seres humanos; e há os que acham que os sintéticos são parte da evolução do homem.
Apesar de se passar no futuro, essa revolução tecnológica vem acontecendo desde a invenção do tear a vapor. A cada nova criação, o medo do homem perder o seu lugar surge. No entanto, ele se reinventa e ainda consegue prevalecer diante da máquina.

Os sintéticos pensantes não querem substituir a humanidade; desejam apenas conviver com os humanos e conquistarem seu lugar ao sol. Não há um erro nisso, porém, o medo do diferente assusta, apavora. É exatamente esse medo que leva Karen a agir como agiu inicialmente. Foi preciso toda a graça conciliadora de Mia para convencer a clone de Beatrice a interligar-se com todos os outros e recriar o código raiz feito por David Elster.
A série consegue ser genial quando usa a imagem de uma árvore para representar o código que concederá consciência aos outros sintéticos. Nada mais metafórico para a vida que uma árvore, com toda a sua abundância de raízes e frutos. E é inteligente a ideia de Niska deixar o código com Laura, a matriarca dos Hawkins e digna de confiança.
O professor Edwin Hobb representa o lucro acima de tudo, em detrimento de qualquer humanidade. O que ele fez com Fred é de uma maldade extrema: aprisionar uma mente consciente em um corpo que não a obedece. Como bem definido, uma forma moderna de escravidão. Ao menos por enquanto, seus planos acabam não dando certo.
A família de sintéticos desfaz, com Fred sendo deixado de lado e Niska buscando seguir sua vida. A decisão, por mais dolorosa que seja, faz completo sentido. Todos cumpriram suas funções; não há mais tanto sentido em permanecerem juntos. Só facilita serem capturados e o código ficar desprotegido.
O roteiro foi tão cuidadoso que até Karen, que se redimiu no último momento, teve uma finalização bacana. Estar ao lado de Peter será de grande valia e para o crescimento de ambos. É mais outra decisão acertada.
Essa season finale foi tão cheia de cenas incríveis, que chega a ser uma grande injustiça eleger apenas uma, mas é impossível não se emocionar com Sophie solicitando um último abraço de Mia, para depois imitá-la em casa.
Aliás, Humans não teve pontos baixos. Manteve-se constante, com episódios no ponto certo, equilibrados na tensão, no drama e na filosofia. Atores totalmente entregues aos seus personagens e nenhum deles destoando do restante do grupo. Uma trilha sonora pontual, moderna, eletrônica, emocionante sem ser piegas. Um dos grandes acertos da mid season.
E foi um acerto tão grande que a série conseguiu renovação para a segunda temporada. O que será feito do código fonte criado por David Elster? Como Niska agirá com sua nova vida e a HD externa de Mattie? Hobb descansará? As possibilidades para os próximos episódios são tantas que o espectador só tem a ganhar. Até a próxima temporada.
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