Magnífica 70 finalmente acerta na evolução narrativa nos trazendo um episódio acima da média.
O tempo da mentira acabou.” — SOUTO, Lucia.
Se por um acaso, você leitor, teve a impressão de que, em minhas reviews passadas fui rígido em minhas argumentações as narrativas de Magnifica 70 não pense que isto se deva a um “torcer de nariz” para as produções nacionais, longe disso, a verdade é bem o oposto.
Em suas chamadas publicitárias Magnifica 70 se mostrava uma obra muito promissora, afinal o período que a mesma se propõe a retratar é rico em várias nuanças. Sejam estas históricas, dramáticas ou filosóficas.
Fato é que não nego o meu descontentamento com a direção rígida de Claudio Torres e uso de alguns elementos técnicos, que citei já varias vezes, como o uso da luz em contraponto ou a inserção da musica em momentos equivocados. Porém já em seu piloto Magnífica 70 se mostrava uma obra superior aos produtos televisivos já feitos.

O Episódio 09– é com alegria que escrevo, pois torço sempre para nossos produtos audiovisuais — se mostrou o melhor de todos os episódios até aqui, trazendo não só reviravoltas narrativas interessantes, como também uma reflexão sobre o poder feminino dentro de um contexto opressor e ditador.
Chamo sua atenção leitor para percebermos que este episódio segue com duas linhas narrativas — e filosóficas — em paralelo.
De um lado temos Vicente que, ao palestrar em Brasília sobre a importância do cinema nacional como uma ferramente para a disseminação da ideologia militar, temos a oportunidade de conhecer mais do caráter psicológico de seu sogro, General Souto.
Percebam que Souto é a caricatura do estereotipo militar levado ao extremo. Sempre anda fardado, suas falas são pausadas e cerradas, é misógino e acima de tudo, nada deverá escapar de seu controle, tudo e todos estão ali para servi-lo.
Em um interessante jogo de montagem, enquanto General Souto proferia mais um discurso misógino sobre as mulheres trazerem o caos, temos na outra ponta Dora Dumar — ou Vera como preferirem — que sempre a beira de situações extremas e pressionadas pelos homens ao se redor, não vê outra solução a não ser tomar posse do lhe cabe naquele momento em uma interessante reviravolta, que enriquece o roteiro, tornando-se assim, a algoz do assalto a Produtora Magnífica. Dora finalmente se torna nossa heroína, se virando como pode.
Ainda sobre a evolução do roteiro temos uma segunda reviravolta narrativa sobre o passado de Ângela, que traz riqueza para construção desta personagem que é uma figura presente, ou melhor, que assombra o contexto geral da serie, não a tornando uma personagem rasa e maniqueísta, e que veem através de uma interessante interação entre Lucia, Joanna Fonn, e Isabel, Maria Luisa Mendonça, que consegue trazer na ultima cena um humanismo e empatia que faltava em sua personagem.
Enquanto o roteiro abre novas possibilidades e dúvidas a cerca do futuro de seus personagens principais, ele também trata de encerrar outros paralelos que trabalhava ao longo dos episódios passados com o suicídio de Inácio, um final um tanto quanto previsível , ao mesmo ver seu filme A Virgem Encarcerada ser ovacionado pelos militares e se tornar um verdadeiro sucesso nacional pelos motivos errados.
A metalinguagem com a historia do cinema continua lá, trazendo uma verossimilhança que muito me agrada, deste a exibição no letreiro do cinema do filme O Destino de Poseidon, filme de 1972 dirigido por Ronald Neame, até á clássica cena da escadaria de O Encouraçado Potemkin, filme de Serguei Eisenstein.
Os problemas técnicos ainda são presentes, mas fica evidente que Magnífica 70 é sim uma obra audiovisual que demorou, mas finalmente engatou trazendo um roteiro interessante e pretendo seu espectador na ponta da poltrona com gosto de quero mais.
E você, leitor, o que achou deste episódio? Deixe seus comentários abaixo.
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