A tenda está armada, os artistas estão prontos… para o deleite do público, O Grande Gonzalez se apresenta!
O Grande Gonzalez é uma série unicamente brasileira. Vários teóricos dizem que o Brasil é o resultado de uma mistura, e se isso é verdade, então a nova criação do Porta dos Fundos é um exemplo perfeito. Ela é mais do que uma mistura: é uma criação inovadora e original que aplaude e agradece os que vieram antes sem esquecer que deve criar uma identidade sua.
Pra começar, o tema só pode ter vindo do Brasil: um mágico de festa de crianças morre durante um de seus truques, e dois policiais interrogam múltiplos suspeitos bizarros, desde um palhaço com risada maligna a um mágico sexy estilo David Copperfield. No meio desse ambiente, os relacionamentos que se permeiam pela sociedade brasileira podem ser vistos com uma clareza linda. O palhaço? É corrupto. O mágico? É um canalha.
Agora o formato é americano. O Grande Gonzalez é um pastiche de várias características de séries dos últimos anos. A comédia levemente nonsense e com tons de metalinguagem vêm de Unbreakable Kimmy Schimdt e 30 Rock. O lado policial e o assassinato vêm de séries “true crime” como Breaking Bad. E o modo como cada personagem reconta a história de sua maneira parece uma versão escrachada de The Affair.

Nada exemplifica melhor essa mistura do que uma cena no primeiro episódio onde o palhaço Rômulo (interpretado por Fábio Porchat) reconta o primeiro encontro entre Gonzalez (Luis Loblanco) e Gerardi (Gregório Duvivier), literalmente fazendo uma dublagem porca do momento, usando essa chance para mencionar a ‘total legalidade da caixinha de contribuição sindical’.
Esse estilo permeia pelos primeiros dois episódios de O Grande Gonzalez, variando entre o humor negro (a primeira cena mostra Gonzalez sendo ameaçado pelos donos do apartamento onde mora) e o humor extremamente metalinguístico (ao recontar uma luta entre ele e outro personagem, Rômulo olha para a câmera e fala para os dois policiais pararem de ficar se intrometendo) e mostra que a afiada comédia do Porta dos Fundos do Youtube continua aqui.
Que a série é engraçada, tudo bem. Mas uma série de televisão pede mais do que piadas boas. Ela pede uma história que atiça o interesse do público, e mais importante, que se expande por todos os episódios. Esta primeira temporada de O Grande Gonzalez terá dez episódios, mas a prova de que eles serão interessantes só vem no segundo episódio, depois do piloto plantar algumas pistas cativantes e personagens desconhecidos.
Com Tony Gerardi no comando do segundo episódio, a trupe do Porta dos Fundos cumpre a clássica regra das séries viciantes: providencie respostas, crie perguntas. E há sinais de que o grande forte de O Grande Gonzalez não é as piadas ou o mistério de quem matou o personagem titular, mas sim a complicada rede de relacionamentos que cada suspeito tece com cada interrogação.
A história de Gerardi, por exemplo, foca mais no relacionamento dele com Gonzalez do que na festa. Cenas dos dois em bares stand-up e no Domingão do Faustão providenciam um humor que depende mais do silêncio do que da rapidez das piadas de Rômulo, e expande o mundo de O Grande Gonzalez, tornando a morte do pobre mágico, que não deveria ganhar nem uma manchete secundária no jornal, em um evento digno de atenção internacional.
O formato de ‘um suspeito por episódio’ pode acabar danificando a história geral da série (um suspeito chato pode levar à trinta minutos chatos), mas por enquanto, O Grande Gonzalez tem tudo para ser um sucesso da TV brasileira.
O que você achou dos primeiros dois episódios de O Grande Gonzalez? Deixa sua opinião aqui e comente!
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