Novela com ares de minissérie, Liberdade, Liberdade chega em momento político delicado.
Nós somos todos livres” — TIRADENTES.
Brasil do século XVIII. Capitania de Minas Gerais, Vila Rica. É nesse cenário histórico que se inicia a trama de Liberdade, Liberdade, a nova novela da Rede Globo. A história começa no período da Inconfidência Mineira, de Joaquim José da Silva Xavier — o Tiradentes –, e se desenvolve na época em que a família real portuguesa vem para a colônia, nas Américas.
Mas se engana quem pensa que esta é mais uma história sobre Tiradentes, uma das figuras mais marcantes do país. Liberdade, Liberdade se trata de uma história ficcional sobre Joaquina (Mel Maia/Andreia Horta), a filha de Tiradentes (Tiago Lacerda) e Antônia (Leticia Sabatella). A menina nascida no Brasil, que fica órfã e é criada por um amável estranho em Portugal. A mulher capaz de retornar ao país onde seus pais morreram para se tornar o símbolo da luta contra a coroa portuguesa.
Apesar de ser uma novela, Liberdade, Liberdade surge com ares de minissérie, daquelas comandadas por Maria Adelaide Amaral que tanto sucesso fez no início dos anos 2000. A impressão se explica pelo apuro técnico da equipe de produção.
Indo dos cenários inspiradíssimos, passando pelo figurino crível e chegando a uma fotografia especial, valorizando a iluminação natural dos ambientes (especialmente quando iluminados à vela), a novela tem o cuidado técnico só visto em minisséries.
Outro aspecto bastante positivo a ser ressaltado é o elenco. Até mesmo Thiago Lacerda, que costuma apresentar sempre a mesma interpretação, conseguiu entregar algo diferente. Talvez a força de dar vida a Tiradentes tenha contribuído positivamente para o feito. A cena de seu enforcamento, ainda que nitidamente inspirada na execução de Ned Stark de Game of Thrones, comoveu as redes sociais e o espectador que a assistiu.
Mel Maia tem conseguido superar a síndrome da criança prodígio e chata que se destaca em um trabalho para sumir depois. A atriz mirim mostra-se cada vez mais natural e entende da arte de interpretar como poucos profissionais, incluindo os adultos. A passagem dela para Andreia Horta foi um corte seco de edição, mas que agilizou a trama.
Aliás, Andreia Horta continua demonstrando a atriz completa que é. Sua presença cênica é vigorosa e lembra, dada às devidas proporções, sua personagem na série A Cura. É empolgante vê-la em cena e é um dos atrativos da novela.
Apesar da minúscula participação, Lu Grimaldi teve um desempenho peculiar como a Rainha Maria I. Pena não ter tido mais cenas com ela. Destaque para atrizes veteranas como Lilia Cabral e Zezé Polessa. É formidável vê-las fora de suas zonas de conforto, apresentando um trabalho consistente e cheio de nuances.
Marco Ricca e seu vilão Mão de Luva também não deixaram a desejar. Ainda que seu sotaque mineiro possa incomodar de início, sua composição equilibra cinismo e maldade a ponto de você sentir medo, não saber do que ele é capaz.
O único problema da novela foi o didatismo excessivo do primeiro capítulo. O texto parecia mais uma aula de história para alunos do Ensino Fundamental do que uma novela. Ainda bem que esse tom foi logo abandonado nos capítulos seguintes. Mário Teixeira tem tudo para fazer um ótimo trabalho.
Aliás, Liberdade, Liberdade chega em um momento político bastante delicado da história do Brasil, coincidindo com um possível processo de impeachment. Não é a primeira vez que isso acontece. Anos Rebeldes apareceu durante a deposição do ex-Presidente Collor, em 1994. Até que ponto ficção incluirá temáticas atuais só o tempo e os capítulos dirão.
O fato é que o espectador tem uma boa história, contada de maneira bem eficiente, para acompanhar no horário das onze.
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