Eu tive um grande ano na minha vida. Foi em 2009. Foi uma época irrepreensível na minha vida em que tudo o que aconteceu foi único, incrível, perfeito e singular. Especialmente as pessoas que conheci nesse período. Depois disso, os anos foram bem inferiores. 2014 então, nem se fala. A coisa anda tão ruim atualmente que qualquer coisinha um pouquinho diferente já chama atenção. E que se tivesse aparecido em 2009, não daria a menor bola.
É justamente essa a impressão que Scandal passa.

Estava muito relutante em ver, justamente por ser da Shonda. Meu término com Grey’s Anatomy havia sido muito traumático e eu não queria me envolver com a showrunner feat. Satã tão cedo. Mas a insistência do BoxBoy Pedro foi tão grande que dei uma chance ao piloto. E pouco tempo depois terminava a primeira e a segunda temporada e ficava em dia com a terceira.
E eu estava achando tudo muito lindo, tudo muito perfeito, tudo muito ágil. Muito ágil. Ágil até demais. Foi quando percebi que estava sendo vítima de um grande embuste arquitetado pela mente diabólica de Shonda. Somente então notei o quanto Scandal é um produtão enganoso, ludibrioso e fraco.

Scandal só tem uma coisa genial: Kerry Washington! Os episódios exageram no drama-pessoal-romântico-impossível, mas a protagonista é genial. Toda vez que uma atriz pega um texto que é bobo de alguma forma e consegue imprimir nele algo além do que está lá, eu acho genial. Kerry tira leite de pedra. Ainda que ela seja extremamente caricatural e suas caras e bocas tenham ganhado paródias mil na internet e isso seja profundamente irritante. Ainda assim é genial. E é sofrível porque todo o resto é um saco.
O elenco está desigual — a Kerry é genial, mas os atores que fazem a equipe dela irritam. As cenas em que Olivia Pope arrasa e você observa os demais e, meu Deus, isso dá nos nervos, porque eu penso: “Porra, aí está uma atriz se dedicando e vocês atuando como Joey Tribiani!”.

O texto chega a ser ridículo de tão excessivo. Parece um novelão. Com a diferença que em novela isso funciona bem. E até em Grey’s, que era sobre as emoções de uma mulher e o grupo ao redor dela (ao menos no início), também funcionava. Mas Scandal deve ter muito mais do que isso. Ainda que o dramalhão exagerado, além do limite, seja marca assinada de Shonda e funcione perfeitamente em dramas médicos, em Scandal parece deslocado.
A série trabalha também extrapolando o virtuosismo do gênero “advogados feat. políticos”. Tudo é extremamente apressado. Os diálogos são disparados em velocidade impressionante por uma metralhadora giratória verborrágica. É um exercício muito mais de estilo que narrativo. O estilismo em detrimento da narração.

As peripécias de Olivia Pope e sua trupe parecem videoclipes, filmes de animação moderno, em que muita coisa precisa acontecer com velocidade e urgência, para não dar tempo do espectador respirar ou mudar de canal ou procurar algo mais interessante e melhor pra fazer.
E Scandal é paradoxal também. Se acelera por um lado, torna-se cíclica em outro. Os vai-e-vens do relacionamento de Olivia com o presidente é um mito do eterno retorno. Dois episódios está tudo bem, mais dois para preparar o terreno da briga, um com a briga, dois brigados, um para a reconciliação, dois está tudo bem, mas dois para preparar o terreno da briga e assim por diante.

Mas por que Scandal faz tanto sucesso assim? Porque não tem nada de melhor na TV aberta no momento. E, no brilho de uma pedra falsa, a gente acaba dando valor a quem não merecia ao pensar que é uma joia rara, mas se trata, na verdade, de bijuteria.
Se Scandal tivesse surgido no mesmo período em quem surgiram House, Desperate Housewives, Grey’s Anatomy, seria apenas mais uma série candidata ao esquecimento. Mas, como apareceu apenas agora, acabou fazendo esse sucesso estrondoso aí. Nada muito espantoso.
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