Eugenia e antropologia embasam episódio de The X-Files
Somos brilhantes, nós Evas” — EVA 6
Os filmes de terror mais assustadores são os que envolvem crianças. Talvez por causa da ideia de inocência que a infância traz, não gostamos de associar algo tão puro contaminado pelo mal. É uma discussão antropológica, que respinga na arte. Se hoje temos American Horror History e Penny Dreadfull, na década de 1990 The X-Files levantou a proposta de trazer o terror/horror para a TV. E as crianças em The X-Files são sempre curiosos. Mesmo sendo personagens adjacentes, seus papéis adquirem contornos mais definidos junto ao desenrolar da trama.
Neste caso, somos levados a acreditar que uma garotinha, chamada Teena, presenciou um contato imediato de 3º grau, que levou á morte de seu pai, pela drenagem quase total de sangue. Mulder se empolga com o caso, que parece muito com a mutilação de vacas (Chupacabra?), fenômeno estudados pelos ufólogos. O caso começa a complicar, quando, do outro lado do país, outra morte por hipovolemia, nas mesmas condições da primeira, acontece. E a filha do assassinado, Cindy, é, fisicamente, idêntica à Teena. Descobre-se que as duas são fruto de fertilização in vitro e estão ligadas ao nome da cientista Sally Kendrick.
Tudo leva a crer, se tratar de um episódio mitológico, onde mais detalhes do conhecimento do Governo sobre vida extraterrestre serão expostos, mas o que o Garganta Profunda traz é diferente: eugenia, manipulação genética para a criação de humanos superiores. Algo que aconteceu na Alemanha Nazista e que, segundo o roteiro, já havia sido feito na União Soviética. Claro que os Estados Unidos não poderiam ficar atrás, daí surge o Projeto Litchfield. Crianças chamadas Adãos e Evas foram criados. Restaram as Evas. E aqui temos a fundamentação para o que viriam a ser os “super soldados”, elementos fundamentais da mitologia nas temporadas que virão.

Sendo eliminada a possibilidade de contatos imediatos com extraterrestres, como causa da morte dos pais, somos levados a acreditar que as Evas adultas são as responsáveis que querem trazer as garotas junto a elas. É preciso resssaltar a atuação belíssima de Harriet Sansom Harris, que consegue transmitir a genialidade das Evas, e também diferenciar a loucura de Eva 6 e a preocupação de Eva 8 ao tentar orientar Teena e Cindy de volta para o comportamento sociável. Uma clara alusão à discussão sobre até que ponto genética e ambiente influenciam na formação da personalidade humana.
A interação dos dois agentes com crianças também é sempre interessante. Percebe-se que, por baixo da postura profissional, há algo diferente nos casos que envolvem crianças. O tom de voz muda, a expressão dos atores também. São atitudes sutis, mas que demonstram necessidade de protegê-las, quase numa postura parental. Características das personalidades dos protagonistas, afinal, Mulder perdeu sua irmã ainda criança e Scully tem seu lado materno bem aflorado, apesar de, até este momento da série, priorizar imagem de mulher independente, moderna e profissional, que não cuida de relacionamentos ou deseja ser mãe.
Porém o mito da “inocência na infância” se desfaz, e um acaso permite a Mulder descobrir que, na verdade as duas crianças, a quem eles tentavam proteger, na verdade é a quem deviam temer. Diante da discussão nature x culture, neste episódio venceu a genética, e o horror.
Segue promo do próximo episódio:
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