– Não há mais lugar para ele (o Caravaggio). Arte não se trata de sobrevivência, Trata-se de transcender. Ser mais que animais. Elevar-se.” — Dr. Edwards
“ — Não podemos fazer isso?” — Beth
“ — Não sei.” — Dr. Edwards
Sempre que The Walking Dead aparece com um plot, aparentemente novo, o tema da sobrevivência e da nova ética social aparece forte na série. Foi assim com o rancho Greene, com a prisão, com Woodbury, com Terminus, com a igreja e sempre será. O pano de fundo para as discussões filosófica a cerca do episódio agora é o Hospital de Atlanta.
E é extremamente simbólica a volta da historia para Atlanta, o primeiro objetivo do grupo que Rick lidera era chegar à Atlanta, no CDC, a procura de um lugar seguro. Desde que o apocalipse zumbi começou, todos buscam seu porto seguro, e vão fazer o que for preciso para tê-lo. Esta é a postura de Dawn, uma policial que, a seu modo, faz tudo funcionar no hospital: as mulheres devem servir aos homens e os que foram encontrados, devem trabalhar para que o lugar não pare.
Dr. Steve Edwards, assim, tem o seu valor nesta sociedade. É o único médico do hospital e vende o seu trabalho pelo conforto da comida e de ter um lugar a salvo dos errantes. E manipula os demais do hospital para que ele continue sendo o único. Esta é a forma que ele encontrou para sobreviver. Qual será a forma que nós encontraríamos para sobreviver? Passaríamos por cima de nossos preceitos morais? Manteríamos a nossa conduta até o fim?
TWD faz pensar, e o episódio desta semana se destaca por isso. Todos os elementos da série estão em um único episódio: a sobrevivência, a sociedade pós-apocalíptica, a revolta, a insubordinação, o abuso de autoridade. O fim do mundo não é o fim para todos. Alguns ainda sobrevivência, a duras penas, mas nutrem esperanças de ver o mundo ser dominado pelo ser humano novamente. E será que algum dia não vamos chegar a este ponto também, de não sermos mais a espécie dominante? A perda do poder deixa alguns de nós descontrolados.

Escravidão é um termo usado para a relação estabelecida entre dominado e dominador. Neste sentido, Dawn é uma espécie de senhora de engenho norte-americana que escraviza seus “pacientes”, recruta pessoas que tenham aptidões necessárias para fazer o hospital funcionar, em troca de comida e segurança. Mas há uma revolta latente dentro das escravos, uma não aceitação da condição de trabalhadores por um prato de comida que fazem aparecer as insurreições dentro deste grupo. Fadado a não dar certo, o grupo liderado por Dawn passa por um momento delicado, no qual a chegada de pessoas do grupo de Rick só faz crescer a vontade de sair e procurar a segurança em um lugar mais democrático.
Garreth, Phillip, padre Gabriel. Todos mantinham suas ilhas sociais em pleno funcionamento, com dificuldades e escassezes, mas funcionando. A entrada de estranhos nestas micro-sociedades marca a decadência delas. Um grupo que não acredita que as regras sejam fixas, imutáveis, e que aprendeu a sobreviver diferentemente das bizarrices que os lideres impõe aos grupos.
Neste sentido, Rick é o líder menos bizarro, o que ainda consegue ouvir seu grupo e leva-os da forma mais democrática possível. Em comportamento animal, isso se chama tirar proveito de uma má situação. Logo, se dos piores Rick ainda é o melhorzinho, crédito para ele. Depois de ver tantos malucos e tantas coisas extremas sendo feita em nome da sobrevivência, e pela primeira vez aqui, eu tiro meu chapéu pro Rick. Ele consegue manter o grupo unido sem ultrapassar muito o limite da humanidade que os demais suportam. E estes limites vão se alargando, aos poucos, a medida que o mundo se torna um lugar mais extremo, obscuro. Agora a guerra não é mais entre homens e errantes, mas entre grupos, sociedades e errantes. Os zumbis tornam parte do cenário, e o ser humano tenta retornar ao protagonismo das ações.
Volto ao quadro de Caravaggio que Dr. Edwards tem em sua sala. A negação de São Pedro. Na Bíblia, Pedro nega conhecer Jesus por três vezes para os soldados romandos. Assim, ele conseguiu sobreviver. E assim, Jesus conseguiu angariar discípulos pelo mundo todo e construir o que é um dos seus maiores legados na Terra: o cristianismo. Se Pedro não tivesse negado Jesus, ele estaria crucificado também e o legado de Jesus tomaria outro rumo. São Pedro, a peça fundamental para começar a espalhar a palavra de Cristo, fez o que precisava naquele momento para garantir um futuro à humanidade. Seria este episódio uma alegoria da sociedade moderna? Ou um presságio do que será a sociedade no futuro?
Fora as considerações filosóficas, o que foi o final deste episódio? Como assim Carol dá entrada no hospital que Beth está? Então, com quem Daryl retorna à igreja no episódio passado? A série prova mais uma vez que tem muito folêgo ainda, e que as duas temporadas passadas ficaram lá, e a partir de agora a série toma um rumo muito mais interessante. O próximo episódio, Self Help, voltará suas atenções para Abahram e o grupo de Rick. Fiquem com a promo e até semana que vem!
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