Em épocas de intolerância, Tyrant propõe uma pertinente discussão sobre a fé
O filho, condenado a repetir os erros do pai” — Al-Yasbek, Ahmos.
Dizem que se Deus não existisse, o homem o inventaria. Isso resume bem a essência humana. O ser humano é predisposto a crer, a ter fé. A necessidade de acreditar em uma força superior é inata e leva muitos buscarem um alívio para sua carência espiritual nas mais diversas religiões do mundo.
O problema é quando esse objetivo religioso, geralmente criado com poesia, é distorcido e passa a ser usado para disseminar inverdades, intolerância, maldade. Seja no Oriente Médio, seja no Brasil, a fé utilizada com fins destrutivos é tão corrosiva quando um câncer.
Tyrant, em seu terceiro episódio, abordou o assunto da fé. E era de se estranhar que uma série que se passa no Oriente Médio, berço do Islamismo, ainda não tivesse tocado nessa temática. Porém, quando o fez, usou sutilezas incríveis e poderosas.

Ao ordenar um ataque biológico contra a cidade de Ma’an, o general Tariq acreditou estar fazendo o melhor para Jamal. Da mesma maneira como havia servido o irmão por mais de vinte anos, Tariq tinha plena convicção que era assim que a rebelião precisava ser contida. E o pior é vê-lo admitir que não fez nada de errado. Fez o que era preciso ser feito.
Não adianta Jamal repreendê-lo. No fim das contas, todos os comportamentos de Tariq são da responsabilidade do presidente. O acordo com os chineses e manter as aparências diplomáticas são ainda mais importantes que as vidas perdidas em Abbudin. Não é de se espantar que Jamal seja esse tipo de governante. O jogo de mímicas é absolutamente metafórico. Afinal, Abbudin pode ser mais uma civilização que o vento levou.
E Leila? Seu comportamento continuou sendo um ato de fé mesmo quando ela sabia que não tinha motivos para confiar em seu marido. Receber um banho de sangue foi o mínimo. E fazer a mea culpa chorando alegando ignorância? Ela mesma deu o aval para o marido agir dessa maneira. Espezinhou-o até o limite para que matasse Bassam e depois pretende fazer a arrependida? Um pouco menos.
Ihab começa perceber que sua luta é ainda mais horrenda do que imaginou. Milhares de pessoas que depositaram fé nele estão mortas. E os sobreviventes começam a questionar a causa, a validade da luta. Será necessária muita fé para continuar arrebanhando simpatizantes.
Molly também percebeu que é preciso um pouco de Deus na vida dela e de seus filhos. Sem o marido, descobrindo a sexualidade do filho (que se deu bem ao receber uma bolada), lutando para manter a sanidade. Chega ser comovente vê-la de mãos dadas com os filhos fazendo uma prece.
Bassam continua sua recuperação. O ambiente que vive atualmente é propício para seu retorno. Não demora muito para isso acontecer. Afinal, ninguém melhor para lutar por Abudin que o médico. Ele tem tudo para comandar a libertação do país. E agora fará isso com o auxílio de quem realmente importa: o povo.
Fiquem com as cena do próximo capítulo.
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